quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Pais x filhos a autoridade em crise...Parte I.




A autoridade parental é indispensável para a construção do caráter e da personalidade dos filhos. Crianças criadas sem consciência de limites se tornam adultos frustrados e infelizes. Muitos pais, porém, têm medo de desempenhar seu papel de educador, confundindo autoridade com autoritarismo


"TENHO MEDO DE SUFOCAR SUA PERSONALIDADE OU SUA CRIATIVIDADE"

Autoridade e autoritarismo são coisas muito diferentes. Ambas as palavras têm o mesmo radical: autor. Mas, enquanto a primeira pode ser entendida como o poder de impor limites necessários para a convivência em sociedade, a segunda indica um exacerbamento desse poder, realizado pela simples imposição de uma idéia sem possibilidade de contraposição.

É exatamente por confundir e misturar os significados de autoridade e de autoritarismo que tantos pais, hoje, têm medo de exercer qualquer forma de poder sobre seus filhos - seja ele justo e necessário à boa educação da criança ou um poder ilícito e prepotente, ditado apenas pelo desejo arrogante de se impor a qualquer custo.

Em qualquer tipo de relação humana, o autoritarismo é sempre estúpido e nefasto. Mas, em relações do tipo professor/aluno e, sobretudo, nas relações entre pais e filhos, a autoridade é indispensável para a construção sadia da criança.

A autoridade enfrenta séria crise na sociedade contemporânea. Levadas ao exagero, sentenças do tipo "é proibido proibir", que se transformaram em palavras de ordem nos anos hippies das décadas de 1960 e 1970, fizeram muito mais estragos do que se poderia supor naqueles momentos de farra libertária. Plantaram nas mentes e nos corações a convicção falsa e perigosa de que, na vida, tudo são direitos e nada é dever. Boa parte dos pais de hoje (eles mesmos mal-educados) simplesmente não sabe o que fazer para controlar a rebeldia dos filhos, perdendose no interior de situações esdrúxulas nas quais quem deveria ser comandado comanda, e quem deveria mandar comete um desmando atrás do outro. Ou vocês, caros leitores, acreditam que o sucesso de séries televisivas tipo Supernanny se deve a um simples modismo?

A crise da autoridade parental é real e se reflete em projeções danosas em todos os demais aspectos da sociedade. No Brasil, basta prestar atenção ao que acontece atualmente em todas as esferas do poder governamental, seja ele executivo, legislativo ou judiciário. Há total confusão entre autoridade e autoritarismo, gerando situações de descalabro caótico, de sambas do crioulo doido nos quais o grampo e a espionagem campeiam soltos e ninguém leva a legalidade realmente a sério. O problema é exemplar e vem do berço. Quem não aprendeu desde cedo a ter consciência de limites tenderá a viver e a manifestar até o fim a sua patologia de descomedimentos.

Voltemos ao tema: a crise da autoridade parental. Quem, ao visitar algum casal amigo com criança pequena e preferir, às 10 horas da noite, dizer "tchau" e ir embora - já que a conversa era impossível com aquele pirralho que não parava de gritar -, não ouviu desculpas do tipo: "Ele não quer ir dormir", "é um inferno toda vez que chega a hora de fazer os deveres da escola", "ele faz tudo o que lhe dá na cabeça"...

Nos consultórios, os psicólogos especializados em problemas de família ouvem esses mesmos desabafos todos os dias. Qual é a causa dessa grande desordem familiar? A ausência da autoridade, dizem os especialistas. Esses pais, que pensam cuidar bem de seus filhos e procuram ser o mais zelosos e atentos possível, não impõem aquilo que deveriam impor. Seja porque rejeitam, "por princípio", toda posição de autoridade, seja porque, embora querendo manifestar sua autoridade, não conseguem mantê-la por mais de alguns instantes.

Sabemos todos, no entanto (e os educadores que trabalham em comunidades periféricas carentes melhor que ninguém), que é a falta de educação e, portanto, de autoridade - familiar, escolar ou social - que fabrica a delinqüência. Educar uma criança significa ensiná-la a se tornar um ser civilizado. Isso pressupõe, no que diz respeito aos pais, firmeza, constância e, sobretudo, a convicção de que essa autoridade é legítima porque sem ela não é possível uma construção correta da criança.

Para que isso realmente aconteça, é preciso, em primeiro lugar, que os pais superem as suas próprias resistências internas, às vezes muito sólidas, que se opõem a esse exercício. Para a moderna psicologia, são os medos dos pais que os impedem de se posicionar de modo correto. Claude Halmos, importante psicanalista francesa, explica quais são esses medos e como se livrar deles em seu livro L'Autorité expliquée aux parents (A autoridade explicada aos pais), lançado há pouco na França pela Editora Nil.

"TENHO MEDO QUE MEU FILHO DEIXE DE ME AMAR.

" Para Claude, esse é o medo que vem em primeiro lugar. O medo de ser rejeitado leva o genitor a dizer sempre "sim" e a proibir o menos possível. Esse medo, no entanto, parte de uma idéia falsa, segundo a qual uma criança seria feliz "sem limites". Ora, uma criança deixada entregue a suas próprias pulsões e seus desejos não poderá ser feliz. Ela estará limitada, incapacitada para a vida social, a escola, pois não saberá respeitar as regras que possibilitam a convivência. Estará despreparada para a vida a dois, pois esperará que seus companheiros lhe permitam tudo, como faziam seus pais.

A criança "sem limites" vive constantemente angustiada, pois não encontra nenhuma barreira que a proteja de si mesma e do mundo exterior.

Toda criança começa por recusar os limites, mas essa recusa esconde, na verdade, uma procura deles, pois ela sabe que são necessários. Por isso, a autoridade é uma prova de amor, e não de desamor. Podemos dizerlhe: "Se eu não o amasse, não me importaria com aquilo que você vai se tornar e o deixaria fazer tudo o que lhe desse na telha."

Por Luis Pellegrini...
Fonte:Revista Planeta

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