sexta-feira, 10 de outubro de 2008

::Ilana Casoy - Uma grã-fina no mundo do crime::



Ela poderia ter sido dona de casa ou uma empresária de sucesso. Mas a paulistana Ilana Casoy, filha de de intelectuais de classe alta, escolheu investigar a cabeça e os motivos de um grupo particular de pessoas: assassinos em série.



Imagine um universo paralelo. Um lugar onde a vida se duplicaria a esta de forma invertida. Um lugar onde você não se casou aos 25, mas esperou para poder passar dois anos morando fora. Um lugar onde poderíamos ter feito todas as escolhas que não fizemos. Ali, a administradora de empresas Ilana Casoy, 48 anos, está, numa quarta-feira qualquer, saindo da piscina às pressas porque tem hora marcada no cabeleireiro e depois vai às compras com amigas. Enquanto isso, a Ilana deste universo está investigando um crime que aconteceu em Belém: ali, quatro crianças foram estupradas e enforcadas. Especialista em traçar o perfil psicológico de assassinos, ajudou a polícia a encontrar o cara. Mas essa não era para ter sido a sua vida.

Paulista de classe média alta, sobrinha de Boris Casoy, prima de Serginho Groismann, estudou em um dos mais tradicionais colégios da capital. Pensou fazer Medicina, mas desistiu depois que um primo a levou para 'passear' em um plantão. Então, foi fazer Administração na Faculdade Getúlio Vargas. Casou e, com 25 anos, já tinha dois filhos. Mas aí, beirando os 40, bateu a crise: 'O que vou me arrepender de não ter feito nessa vida?'. Para alguns, a resposta seria saltar de pára-quedas ou conhecer o Nepal. Para ela, era estudar a mente de criminosos. Hoje, depois de ter escrito três livros ('Serial Killer, Louco ou Cruel', 'Serial Killer Made in Brazil' e 'O Quinto Mandamento', sobre o caso Richthofen), Ilana é peça-chave na resolução de alguns crimes no Brasil, principalmente os que apresentam características de assassinatos em série. Além de acompanhar oficialmente o caso do maníaco de Guarulhos, ajuda a promotoria do caso Nardoni, participou de uma espécie de conselho que construiu a mente do psicopata Dexter, protagonista do premiado seriado de mesmo nome da Fox, e será homenageada pela amiga Gloria Perez na próxima novela das oito com um personagem que leva seu nome: a conivente mãe de um garoto rico e mimado que se comporta como marginal.

MC Por que alguém escolhe mergulhar nessa dimensão da miséria humana?
IC Acho que algumas pessoas são capazes de enfrentar o contato com essa dor e fazer alguma diferença. Nem todo mundo consegue.

MC Tem um custo?
IC Mil vezes eu paro, choro, não durmo, tiro três dias de férias. Eu estava na praia terminando o 'Louco ou Cruel' e quem disse que dava para escrever? Entrei na cabeça de um dos assassinos e não conseguia sair. Fiquei mal. Liguei para minha amiga Gloria [Perez]: 'Quando você encalacra, o que faz?'. Ela falou: 'Fecha tudo, vai para a praia, três dias de nada'.

MC Mas por que você entrou nessa?
IC Acho que sempre estive dentro. Histórias policiais, crimes não-resolvidos, sempre me intrigaram. Minha lembrança de infância sou eu na cozinha da casa da minha avó com meus pais e entrou o Boris [Casoy], meu tio, falando: 'Mataram o Kennedy'.

MC Se o assunto era tão forte em você, por que não foi fazer Direito?
IC Eu queria fazer Medicina Legal porque o legista tem condição de entender o que se passou nas últimas horas daquele corpo. Achava que poderia ajudar a resolver muitas coisas.

MC Não pensou em ser legista?
IC Quando fui fazer vestibular, um primo, que estava no 4o ano de Medicina, me disse: 'Vou te levar num plantão de verdade para você ver que não é um seriado americano, no qual todos são bonitos, tudo é bem limpo e, no fim, a história acaba bem'. Ele me levou ao Inamps, no Tucuruvi.

MC Nossa, ele castigou mesmo.
IC Passei lá 24 horas e, olha, vou te falar... Vi uma mulher com a barriga aberta, que teve complicações no parto e perdeu a capacidade de ter prazer sexual aos 20 anos. Saí atordoada.
'Eu queria fazer Medicina Legal porque o legista tem condição para entender o que se passou nas últimas horas daquele corpo'

MC E resolveu se casar...
IC [Risos] Não, na minha casa fazer faculdade não era opcional, era um caminho natural. Bom, aí decidi fazer Administração de Empresas.

MC Como foi essa guinada para o crime?
IC Trabalhei com administração até perto dos 40. Passei a fuçar pela internet arquivos da Suprema Corte americana, australiana, inglesa... De repente, tinha acesso a tudo: assassinatos do Kennedy, do outro Kennedy, de Martin Luther King... Fui arquivando as histórias e, perto dos 40, falei: 'É hora da mudança'.

MC A ampulheta virou.
IC Cheguei para o meu marido, com quem casei aos 20 anos, e falei: 'Preciso de um ano. Vou alugar uma sala, um telefone, e vou escrever um livro'. Eu já tinha um vasto material sobre serial killers e achei que aquilo organizado valeria um livro.

MC E o que fazia você acreditar que o seu livro seria publicado?
IC Nada. Só queria escrever. Mas isso exigia disciplina, né? Precisava acordar num dia de sol e ir trabalhar. Será? Quanto tempo até enjoar?

MC Seu marido achou ruim sua investida pelo mundo do crime?
IC Ele sempre curtiu ver como eu martelava meu caminho por esse mundo. Eu não conhecia nada, nem ninguém. Fui indo no muque e, uma hora, já sabia tudo o que se passava no FBI, na Scotland Yard. Mas o Brasil era um quarto escuro.

Fonte:Marie Claire

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